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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Conto - Deus lhe pague


O sol já estava se pondo por trás dos altos edifícios, quando o pequeno Francisco começou a guardar seus pertences.
Menino de sorriso largo e fácil, chamava a atenção pela sua pele escura como ébano que contrastava com seus dentes alvos e fortes.
Ele havia trabalhado o dia inteiro naquela esquina de uma movimentada avenida, estava exausto e faminto.
Durante todo o dia, ele observava o vai e vêm de pessoas de todos os tipos, sempre apressadas que mal notavam sua existência.
Mas o menino de 10 anos de idade já estava acostumado à indiferença e até mesmo a rejeição das pessoas.
Morador de uma favela nas proximidades, ele trabalhava como engraxate para ajudar no sustento de seus três irmãos menores, uma vez que sua mãe trabalhando como diarista, não conseguia ganhar o suficiente para prover a necessidade de todos.
Abandonada pelo pai das crianças, um alcoólatra irresponsável, ela se viu com a responsabilidade de continuar em frente, mesmo com todas as dificuldades financeiras que enfrentava.
Para que ela pudesse ir ao trabalho, contava com a ajuda de sua vizinha Odete, que por compaixão à Dona Joana, ajudava cuidando de seus filhos pequenos.
- Não tem problema não, Dona Joana, afinal onde tem três crianças, mais três quase não fazem diferença – respondia brincando a vizinha quando Dona Joana agradecia ao apoio.
A vida precária que levavam naquele pequeno barraco de apenas um cômodo, só era suportada graças a abnegação de Dona Joana, mãe de Francisco.
Não era incomum o dia, em que não havia muito o que se comer, após chegar do trabalho cansativo de diarista, ela ainda precisava se desdobrar para preparar algo para seus quatro filhos se alimentarem, mesmo que ela própria ficasse sem comer, fato que por diversas vezes aconteceu.
- Mãe a senhora não vai comer nada? – perguntou a filhinha de apenas seis anos.
- Não querida, eu não estou com fome, e além do mais estou mesmo precisando fazer um regime.
Era difícil responder desta forma, enquanto seu estômago dizia o contrário, afinal havia trabalhado pesado durante todo o dia e sentia necessidade de se alimentar.
Para enganar sua fome, ela bebia copos de água e consolava a si própria dizendo – Água faz bem e não engorda.
Uma coisa nunca faltara naquela humilde moradia, o respeito ao próximo e a fé em Deus, Dona Joana mantinha sempre uma imagem de São Judas Tadeu sobre uma velha comoda, onde todas as noites ajoelhava-se orando por proteção e pedindo forças para prosseguir.
O pequeno Francisco acabara de recolher seus pertences da calçada e começou seu caminho de retorno a sua casa.
Em um banco de uma pracinha pela qual passava diariamente, Francisco notou um pequeno envelope marrom caído sob uma velha folha de jornal.
Curioso como qualquer criança de sua idade, ele se aproximou do banco e abaixando-se pegou o envelope.
- Nossa, tem alguma coisa aqui dentro – pensou curioso.
Sentou-se então no banco, e abriu o envelope de forma furtiva como que com medo de que alguém o repreende-se.
Ao olhar o conteúdo, tamanho foi seu susto que sentiu um tremor por todo o corpo.
- Nossa, tá cheio de dinheiro! – exclamou boquiaberto o pobre menino.
- Acho que de tanto minha mãe rezar, Deus resolveu nos ajudar, vou correndo para casa entregar para minha mãe para que ela compre coisas gostosas para nós - pensou o menino enquanto saia apressado daquele banco de praça.
Em frente a pequena praça, encontrava-se sendo amparada por um comerciante local, Dona Mercedes, moradora de um conjunto de casas que ficava a poucos metros da praça.
A velha senhora, morava sozinha desde a morte de seu marido, muito caridosa e amável, estava sempre disposta a ajudar as pessoas, apesar de viver apenas com a pequena  pensão deixada pelo seu falecido marido.
Como boa samaritana, Dona Mercedes recolhia doações em roupas e alimentos e mensalmente distribuía a algumas famílias e pessoas carentes do bairro onde morava.
Pensando em todas as coisas gostosas que sua mãe compraria para que se alimentassem, Francisco alegre como nunca, passou ao lado de Dona Mercedes, ouvindo-a se queixar ao comerciante que a amparava.
- Pois então Sr. Alfredo, é como eu lhe disse, fui ao banco receber minha pensão, que apesar de pequena necessito para pagar minhas contas e principalmente comprar os diversos remédios que tenho necessidade de tomar diariamente, e agora que olhei meus pertences, notei que o envelope do dinheiro desapareceu.
- Minha Nossa Senhora, Dona Mercedes, a senhora não consegue se lembrar por onde foi que andou após sair do banco? - Vai ver esqueceu seu envelope em algum comércio e alguem pode ter guardado para a senhora.
- Que nada Sr. Alfredo, eu não parei em nenhum comércio, apenas aqui na pracinha, eu estava me sentindo muito cansada com as pernas doendo, sentei um pouquinho para me refazer.
- Então é isto – disse entusiasmado o comerciante – a senhora só pode ter deixado cair lá.
Dito isto, Sr. Alfredo correu para ver próximo ao banco da praça, porém nada encontrou, voltando desanimado para comunicar a Dona Mercedes.
- E agora ? Pensou o menino - o dinheiro é desta senhora coitada, ela está desesperada, o que eu faço?
Francisco sabia que o dinheiro pertencia a pobre senhora, uma coisa era achar o dinheiro, outra coisa era saber a quem pertencia, ainda mais após ver o sofrimento de Dona Mercedes, ele queria muito o dinheiro mas lembrou-se dos conselhos de sua mãe sobre honestidade e principalmente respeito ao próximo.
- Ei dona ! - gritou o menino correndo em sua direção – Eu achei isso, acho que é da senhora- Falou mostrando o envelope marrom.
- Obrigada meu anjo – respondeu efusivamente Dona Mercedes, afinal como ela faria sem seus remédios que já lhe custavam tão caro.
A senhora agradecida abraçou fortemente o garotinho, e deu -lhe um beijo de agradecimento em seu rosto – Deus lhe pague meu filho!
Já refeita do susto, ela convidou o menino para ir até sua casa comer alguns biscoitos como forma de agradecimento, infelizmente dinheiro ela não poderia dar, porque o que recebera quase não dava para seus compromissos do mês.
Para o pequeno Francisco, comer aqueles biscoitos já era uma grande recompensa, afinal ele só via biscoitos nas propagandas de supermercados jogadas pelas ruas.
Dona Mercedes quis então saber mais sobre o garoto, que com a boca cheia de biscoitos, contou-lhe sobre sua vida com seus irmãos e sua mãe.
Duas semanas se passaram, e hoje o pequeno garoto não estava mais rico que antes, nem teria que trabalhar menos para ajudar em casa, mas estava mais feliz, pois agora todos os meses Dona Mercedes que incluíra sua família na sua lista para doações de alimentos e roupas iria levar com a ajuda de suas amigas, os mantimentos necessários para sua família, incluindo roupas e alguns brinquedos para ele e seus irmãos.
Agradecida a Deus pelo presente que agora estava recebendo, Dona Joana podia trabalhar mais aliviada, pois sabia que seus pobres filhinhos não mais passariam pela angústia da fome.
Quando Dona Mercedes disse agradecida a Francisco – “Deus lhe pague” - ele nem sequer sonhava que receberia não uma, mas duas vezes este pagamento, pois além da misericordiosa ajuda prestada à sua família, ele ainda havia conquistado seu quinhão, não aqui onde poderia gastá-lo em coisas gostosas, mas em um lugar onde as boas ações e atos de amor que praticamos em nossa vida, são contabilizadas a nosso favor e no momento oportuno, receberemos por cada semente plantada, saber escolher o que plantar durante a curta trajetória, faz toda a diferença entre bem viver e desesperança.




Fim.

Autoria: Maurício Ramos



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