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domingo, 29 de abril de 2012

O Amanhã

A vida é composta de momentos e realizações diárias.
Realizações estas que definem o ciclo de nossa existência no globo, tornando-nos protagonistas ou meros expectadores.
O amanhã é fruto do que realizamos hoje, e suas conseqüências benéficas ou destrutivas, seguem o curso que delineamos mediante nossas atitudes.
Ter, portanto atitudes positivas e construtivas nos encaminham ao amanhecer de dias mais proveitosos e menos atribulados.

Fazer parte de um todo, implica em contribuir para sua evolução tanto social quanto moralmente, e buscar junto a esta evolução global parâmetros de aperfeiçoamento como individuo, nos garantem seguir em harmonia o fluxo do crescimento universal.

Devemos, pois iniciar o planejamento do amanhã ainda hoje, neste exato momento semeando boas atitudes e pensamentos frutíferos, compartilhando de nossa existência com os demais membros desta jornada, em uma troca simultânea de conhecimento e aprendizado.

O amanhã é inevitável, será vivido neste plano ou em outro com todo o seu vigor, portanto cabe somente a nós garantir que sua vivência seja repleta de harmonia e realizações gratificantes e producentes.

Viver é uma arte, viver em harmonia é uma conquista individual de cada ser.

Autoria: Maurício Ramos

sábado, 28 de abril de 2012

7º Trecho do Livro - A menina e o violino

"O tempo foi passando, e a pequenina Dirce foi crescendo, ao completar seis aninhos, seus pais lhe prepararam uma pequena festa de aniversário, onde sua querida mãezinha fez um delicioso bolo de chocolate, cortou em folhas coloridas flores e borboletas e enfeitou as paredes simples do pequeno cômodo.
Cozinhar para Ana Maria era um prazer, mas ao mesmo tempo um sacrifício, afinal a cozinha externa possuía um velho fogão a lenha, e a tarefa de fazê-lo acender, tinha algo de mágico e bucólico.
As lenhas nem sempre estavam secas como deveriam, pois o mau tempo muitas vezes as deixava úmidas demais, ao conseguir as primeiras faíscas, o ato de assoprar e abanar cansativamente para que a chama se encorpasse era exaustivo e muitas vezes frustrante.
Depois de aceso o fogo, cozinhar era um prazer, e com imensa alegria o bolo de aniversário de Dirce foi assado e enfeitado com cobertura de chocolate.
O presente..., bem, o presente foi como de costume nos últimos anos, uma linda bonequinha de pano feita com os retalhos de tecidos que sobravam, sempre com vestidinhos muito coloridos e recheadas com macio algodão.
Para completar a festa, seu amado pai tocava-lhe diversas músicas com seu violino, entre elas a que a menina mais gostava, a “Valsa Dirce” de onde seu pai havia tirado inspiração para batizar sua pequenina riqueza."

Autoria: Maurício Ramos

terça-feira, 24 de abril de 2012

6° Trecho do Livro - A menina e o violino

Ana Maria, uma mulher maltratada pelo tempo, também aparentava uma idade bem superior a sua, os vestidos longos, simples e meio gastos, seus cabelos amarrados em coque com vários fios grisalhos á mostra, conferiam a ela uma idade que somente o peso da vida sempre difícil podia aparentar. Mulher batalhadora que para auxiliar nas despesas domésticas, trabalhava já a muitos anos como costureira, e possuía em sua casa vários retalhos de tecidos de várias cores e materiais.
Sua habilidade com sua velha máquina de costura Singer, fazia dela uma costureira conhecida na vizinhança, o que ajudava e muito a compor o orçamento doméstico.
Sentada em sua cadeira de madeira, com o joelho acionando o pedal lateral da máquina, com tremenda habilidade e rapidez, o retalho rosa já ia tomando forma de um belo forro para o cestinho, enfeitado ainda com um fitilho branco que percorria toda sua extensão, tendo como acabamento, um lindo laço na parte frontal do cesto.
Em apenas alguns poucos minutos, o cesto de vime havia se transformado em um lindo cestinho para bebê, que fora posteriormente colocado sobre duas cadeiras, encostado ao lado da cama do casal, para que  Ana Maria pudesse velar pela sua bela menininha durante a noite.
 
Autoria: Maurício Ramos

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Conto - No limite da vida

O sol brilhava forte no rosto de Carlos, quando um forte estrondo foi ouvido na dianteira de seu carro, após girar diversas vezes ele sentiu-se arremessado para fora de seu veículo.
O forte cheiro de gasolina que pairava no ar, deixava-o ainda mais tonto, sem ainda entender ao certo o que acontecera.
Tudo estava meio na penumbra, ouvia vozes de pessoas que se aproximavam mas não conseguia saber se estavam perto o suficiente para socorrê-lo, afinal ele sentira que havia sido jogado para fora do carro e que havia rolado por uma ribanceira por vários metros.
Em sua mente, lembranças daquele dia começavam a aflorar, primeiro o amanhecer daquele belo domingo de sol, a turma toda o esperando para aquele churrasco no sítio de um amigo de infância.
Lembrava-se vagamente do que fizera por lá, mas o gosto de cerveja misturado com vodca ainda era forte em sua boca.
Sentia-se sem condições de se movimentar, e uma forte dor na parte posterior da cabeça, fazia com que se preocupasse com sua situação atual.
Ainda era possível escutar dentro de seu subconsciente as gargalhadas de seus amigos em volta da piscina, incentivando-o a tomar mais uma dose, todos alegres e bebendo muito.
A lembrança de sua namorada, dizendo-lhe para não beber tanto, também era forte ao ponto dele ficar novamente incomodado com as palavras que ela havia lhe dito.
- Se continuar bebendo assim eu vou embora com minhas amigas.
Ela havia lhe alertado, mas ele orgulhoso e cheio de si, lhe disse que faria o que tinha vontade de fazer, ou seja beber com seus amigos.
A alegria da festa, estava agora misturada a um sentimento estranho de leve torpor e dor, uma angústia que ele não saberia definir para ninguém.
As vozes que ele ouvia ao longe por vezes se afastavam, e por mais que ele tentasse abrir bem seus olhos, ele enxergava tudo embaçado, por certo devido ao impacto que sofrera com a cabeça, pensava ele.
Seu carro havia capotado diversas vezes, e seu corpo fora realmente arremessado para fora do veículo, mas apesar disto ele estava consciente e temeroso de que não o encontrariam naquela ribanceira coberta de mato.
Foi quando ele sentiu alguem segurar em seu braço, e chamá-lo pelo nome.
- Carlos, tudo ficará bem.
- Que bom – pensou ele – agora estou sendo socorrido, e deve ser algum dos meus amigos da festa, pois até sabe meu nome.
Ele agora lembrava-se de que no final da festa muito embriagado, ainda de tarde com o sol forte do verão iluminando a estrada, resolveu ir embora dirigindo seu carro, sem dar ouvidos a sua namorada que ficou contrariada com sua atitude.
Ainda era possível sentir a latinha de cerveja na sua mão, momentos antes do impacto que o acometera.
Em poucos minutos ele foi recolhido em uma maca, e sentiu que estavam lhe sedando pois adormecera imediatamente.
Depois de um sono confuso, onde por diversas vezes ouvira vozes que lhe chamavam aflitas, Carlos acordou e viu-se deitado em um leito repousando.
Ao ser abordado por um enfermeiro que estava ao seu lado, Carlos sentiu um grande alívio, afinal pensava ele, apesar de sua imprudência ele ainda estava vivo.
Sim, Carlos estava vivo, talvez não da forma como ele acreditava e desta vez cercado de verdadeiros amigos que dele cuidariam e o orientariam, para que ele não voltasse mais a cometer erros em seus julgamentos e atitudes.
Para sorte de Carlos, a vida realmente continua, e há sempre uma segunda chance para recomeçar.
Na pressa para se viver a vida no limite, abusando de forma inconseqüente de todos os prazeres que ela nos proporciona, muitos de maneira prematura abreviam sua jornada, deixando para depois assuntos inacabados que cedo ou tarde deverão ser resolvidos.
A nossa consciência será sempre a nossa maior juíza.

Autoria: Maurício Ramos



sexta-feira, 20 de abril de 2012

5° Trecho do livro - A menina e o violino

"Filha única do casal Mário e Ana Maria, Dirce nasceu no ano de 1926 em sua casa mesmo, com o auxílio de uma parteira amiga da família.
A primeira impressão que causou a todos que a viram chegar ao mundo, foi a de uma bebê frágil e pequenina, porém possuidora de lindos e extenuantes olhos azuis, vivos como o céu mais claro nos dias límpidos da primavera.
Sua pele alva e seus cabelos claros, compunham com delicada harmonia a imagem de uma linda bebezinha, meiga e sorridente.
Em meio a tanta dificuldade vivida pelo casal, a chegada da pequena Dirce, era como o bálsamo que amenizava suas dores, o motivo da alegria e devoção total dos pais, que sentiram-se agraciados por Deus pelo presente recebido.
Porém, tamanha era a dificuldade financeira vivida pelo casal neste período, que não havia sido possível confeccionar o enxoval, nem tampouco comprar-lhe o bercinho para recebê-la.
Eram tempos difíceis, e tudo deveria ser feito com muito carinho porém com muita economia."
 
Autoria: Maurício Ramos

Solidão

“Ela faz parte do cotidiano de muitas pessoas, que mesmo cercadas de massas populacionais inteiras, carregam em seu íntimo o vazio da falta de solidariedade.
Apesar de conviverem e comunicarem-se com centenas de pessoas todos os dias, muitos sentem a fria sensação do vácuo existencial.
Espaço este, que somente será devidamente preenchido com o compartilhar de sentimentos e atitudes.
A solidão não é física, não é psicológica, é na verdade estritamente existencial, é a mais pura indicação de que precisamos dar para receber.
É doando-se aos outros, que receberemos a atenção por eles despendidas à nós.
Somos solitários por opção, o egoísmo de sentimentos e atitudes cotidianas, leva-nos a obscura estrada da solidão da alma.
Sim, porque é a alma que sente-se sozinha, é ela que necessita doar e receber fluídos numa troca mútua, para revigorar-se libertando-se de forma sutil do fardo material que a envolve.
A solidão faz morada no coração do ser onde a indiferença impera, onde o egoísmo e a materialidade são os carros chefes de sua existência.
Fomos todos criados na essência para sermos parte de um todo, do universo, do infinito.
O caminho a seguir é o mais simples, é aquele que nos leva até o próximo, que aguarda ansioso por um sorriso singelo, pronto para retribuí-lo com a mesma intensidade com que o recebe.
Ser solitário é uma triste opção de vida, enquanto que ser solidário é a cura da chaga das dores da humanidade.”

Autoria: Maurício Ramos

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Conto - Sob o olhar de um anjo

“ A pequena Elisa havia acabado de acordar, e estava ansiosa como nunca.

Afinal, não era todo dia que ela recebia visitas tão especiais, o que fazia com que ela muito agitada pensasse sem parar.

- Será que eles vão gostar de mim, vou fazer tudo certinho desta vez , eles têm que gostar de mim...

Elisa era uma garotinha órfã de seis anos de idade, já havia recebido visitas de casais interessados em adoção, mas a grande maioria das pessoas, tem como preferência adotar crianças menores e Elisa já estava grandinha.

Muito inteligente e cheia de vida, seus olhinhos sempre ativos enchiam de alegria quem os olhassem, mas sua idade um pouco acima da média das crianças que aguardam a adoção, era um doloroso impecílio em sua vida.

Ela já estava neste orfanato desde seus três aninhos, e a cada ano que passava via mais distante a possibilidade de conseguir um lar para morar, afinal seu maior desejo era simplesmente ter como qualquer outra criança, pais zelosos que a amassem.

A vida no orfanato não era ruim, as freiras que administravam o local eram amorosas e atenciosas, mas a menina sentia muita falta de uma família.

Elisa foi encaminhada ao orfanato com três anos de idade, porque seus pais muito carentes, moravam com a menina em um barraco de madeira na periferia da cidade.

Em uma noite de muito frio, sem que tivessem agasalhos e cobertas suficientes para se protegerem do rigoroso inverno, sua mãe colocou fogo em alguns papéis e pequenos pedaços de madeira para aquecer o ambiente, mas a proximidade com a garrafa de álcool acabou iniciando um incêndio que culminou na trágica morte de seus pais.

Socorrida a tempo por vizinhos, ela foi encaminhada com algumas queimaduras pelo corpo para tratamento em um hospital.

Como não haviam parentes próximos para que a acolhessem, a pobre menina foi encaminhada ao orfanato aguardando, desde então pela tão sonhada adoção.

O casal chegou para visitá-la e ela cheia de esperanças, foi apresentada aos interessados pela adoção..
- Esta é Elisa, nossa querida garotinha, tem seis anos de idade e uma doçura que é só dela – disse a amorosa irmã Tereza.
- Ela é muito linda - disse Marta, uma jovem senhora que não conseguira ter filhos.

- É mesmo, uma graça – confirmou o jovem esposo.

Após a entrevista de costume já sem a presença da garota, a freira perguntou ao casal sobre a impressão que tiveram da pequena garotinha.

- Nós gostamos muito dela, mas ela já é bem grandinha, e imaginávamos adotar uma criancinha bem mais jovem, que se adaptaria mais a nossa família - respondeu o rapaz.

- Elisa é muito educada, e está muito contente com a possibilidade de ser adotada, tenho certeza que não terão problemas com ela – disse a freira.

- Não sei amor, o que você acha?- indagou a esposa ao marido.

- Você é quem decide amor, afinal este é um sonho que você vem carregando a muito tempo.

- Pois bem, está decidido se for possível adotaremos então a pequena Elisa.

Elisa foi então comunicada do fato, e não contendo tamanha alegria, esperou ansiosa pelo dia em que seria levada para sua nova casa.

Mais de um ano se passou, e a pequena Elisa já estava adaptada á sua nova família, muito bem cuidada por sua mãe adotiva, ela estava sempre muito bem arrumada e seus modos sempre delicados, deixavam-na com a aparência de um pequeno querubim.

Em uma noite, quando seu pai adotivo chegara do trabalho, foi surpreendido por perigosos marginais que o ameaçaram e fizeram com que ele entrasse em sua casa.

Temendo por sua esposa e filha o rapaz tentou evitar em vão que os criminosos invadissem sua casa, sendo agredido com coronhadas de revolver que o fizeram perder os sentidos.

Elisa brincava em seu quartinho que ficava na parte superior da residência e ao perceber que algo estranho estava acontecendo, escondeu-se imediatamente debaixo de sua cama.

Enquanto isto, os ladrões já haviam amarrado seu pai a uma cadeira e amordaçado sua boca com fita adesiva, e haviam dominado também sua mãe adotiva, que desesperada implorava para que não machucassem a ninguém.

Aflita em seus pensamentos a jovem senhora, temia que eles subissem para o quarto de sua filha e a encontrassem, com medo que lhe fizessem algum mal.

Enquanto isso, escutando as conversas que vinham do piso inferior da residencia, e ouvindo as palavras aflitas de sua mãe, Elisa muito esperta e ágil decidiu se esgueirar pela janela do seu quarto, descendo por uma sacada existente até a casa de um vizinho.

Ao ser avisado pela menina que seus pais estavam sendo ameaçados por marginais, o vizinho acionou imediatamente a polícia que se deslocou para o local.

Enquanto isto na casa, um dos marginais já havia demonstrado interesse na jovem senhora, que era possuidora de uma beleza comum, mas muito bem cuidada.

Sentindo que não teria mais forças para reagir aos impulsos daquele fétido marginal, a jovem senhora clamava a Deus pela intervenção divina, como única forma de escapar de situação tão ameaçadora.

Neste instante ouve-se forte estrondo na porta da sala, e imediatamente vários policiais adentram ao local, rendendo os criminosos e libertando o jovem casal, que aliviados viram suas preces serem atendidas naquele momento.

A vida não havia colocado um filho biológico no seio daquela família, mas com certeza havia permitido que anos depois um pequeno anjo fosse por eles olhar, um pequeno querubim chamado Elisa.”

Autoria:Maurício Ramos




4° Trecho do livro - A menina e o violino

"Apesar de seu grande talento, e de seu imenso esforço diário para conseguir angariar horas extras de trabalho, buscando aumentar sua renda ao final do mês, Mário enfrenta grandes dificuldades financeiras, e a labuta diária lhe cansa de forma atroz, tanto física como mentalmente.
Sua saúde já não é mais a mesma de outrora, e sua preocupação aumenta a cada dia.
- Como poderei suprir as necessidades de minha casa, cuidar de minha esposa e de minha filhinha querida, se sinto-me cada vez mais exausto? - este era um pensamento que lhe ocorria diariamente, pois se com ele trabalhando a vida não era nada fácil para aquela pobre família, como poderiam sobreviver caso até isto um dia fosse-lhes negado?
Ele sabia muito bem o que era isso, afinal estava cada dia mais difícil encontrar e manter um emprego, ele havia sentido na pele recentemente a dificuldade de estar desempregado, com uma família a sustentar e tão poucas oportunidades de recomeçar .
Pai extremamente devotado e carinhoso, marido amável e atencioso, Mário carregava em sua alma a essência da arte, arte esta que a vida privou-lhe de poder usufruí-la como gostaria, mas que sua dedicação e amor, jamais permitiram que lhe afastassem de sua presença.
Seu maior bem material era seu velho companheiro nas horas de alegria e nos momentos de angústia, seu inestimável violino, sim ele possuía não apenas um violino, mas o melhor violino que existia.
Este bem tão valioso foi herdado de seu querido pai, que como amante da boa música, era exímio violinista e após sua morte, deixou como herança a seu único filho o bem maior que possuíra, seu violino Stradivarius.
Por quantas vezes, em meio as aflições de sua existência, não foi por intermédio deste querido amigo, que sua mágoa foi desfeita, e sua alegria, embora tênue como o fio de uma navalha, voltava a preencher sua vida..."
 
Autoria: Maurício Ramos

terça-feira, 17 de abril de 2012

A eternidade de um segundo.

Um segundo, tempo mais que suficiente para nos marcar para sempre.
Não é necessário mais do que isso, para que tomemos decisões em nossas vidas.
Estas mesmas decisões, consequentemente terão como resultado final algum desdobramento , agradável ou não para nossa experiência.
Este pequeno lapso temporal, pode modificar um caminho a seguir, resultando em um desfecho diferente de uma determinada situação.
Nem sempre nos damos conta, mas são nas pequenas decisões diárias que tomamos, que construímos o alicerce que nos levará ao fim de uma jornada e suas consequências.
Seguir este ou aquele caminho, dizer esta palavra ou calar-se, são decisões que inconscientemente tomamos diversas vezes ao dia.
A vida é feita de momentos, os momentos são feitos de experiências, e cada experiência é fruto de uma decisão tomada.
Devemos pois, estar cientes que cada segundo em nossa vida tem o peso de uma existência, pois cada caminho seguido, nos levará a uma porta distinta, que nos abrirá novos horizontes, sejam eles frutíferos ou áridos, dependendo de nossas escolhas anteriores.
Um segundo, nada mais.
 
Autoria: Maurício Ramos

domingo, 15 de abril de 2012

Vida à dois

O amor de uma pessoa pela outra, não acontece por fatores racionais, ninguém ama alguém só porque aquela pessoa é extremamente inteligente ou culta.

Também não se ama pelo fato da pessoa, ser de uma beleza estonteante ou possuir um carisma nato.
Ama-se por afinidade, seja ela consciente ou não.
É impossível decidir-se por quem iremos nos apaixonar, simplesmente acontece, nos envolve, nos tira de nosso equilíbrio.
Amar de fato, vai muito além da paixão, vai além da razão, além do querer.
Amar é um sentimento que floresce na alma, somente o verdadeiro amor sobrevive ás intempéries do cotidiano.
A palavra amor tem sido banalizada, tanto na mídia como na vida de muitas pessoas.
Ela só deveria ser pronunciada, quando brotasse do inconsciente, do íntimo, da essência de nosso ser.
Amar é isso e muito mais, é viver em função do outro, é respirar o mesmo ar, é sofrer a mesma dor.
A união de dois seres que se amam, é um brinde à natureza humana, que neste momento sublime, aproxima-se da perfeição do sentimento, lustrando nossa alma em busca da evolução que almejamos nesta caminhada.
Autoria: Maurício Ramos.


O Livre-Arbítrio

A vida é feita de possibilidades de escolhas e decisões a serem tomadas, acertadas ou não.
Temos como guia natural nossa consciência, que por meio da intuição e das experiências já vividas, nos alertam de possíveis perigos e caminhos infrutíferos.
Toda e qualquer decisão, tem como conseqüência um resultado que devemos arcar por contra própria, e que por muitas vezes nos faz culpar o destino pelas nossas provações.
Porém, a maioria das situações a que nos submetemos durante a vida, são os reflexos de decisões e caminhos escolhidos por nós mesmos, onde o “destino”, não teve qualquer influência.
A partir do momento que possuímos inteligência, como seres pensantes somos dotados do livre-arbítrio, um senso de liberdade de escolha que utilizamos da forma como nossa evolução moral mais ou menos desenvolvida considera correta a situação em questão.
Possuir a liberdade de escolha, significa decidir qual a melhor estrada a seguir, e portanto o destino de chegada, mesmo que inconscientemente será fruto de uma decisão unicamente nossa, portanto sem qualquer interferência de forças externas ou destinos já pré determinados pela vida.
A grande maioria dos males que assola a humanidade, são causados por escolhas erradas, direta ou indiretamente pelos envolvidos, uma vez que o livre-arbítrio está presente a todos de forma geral e única.
Saber utilizar-se desta liberdade de ação, é o caminho mais curto para dias menos penosos, e maiores satisfações, evitando dolorosos sofrimentos e angústias futuras.
Ouvir sua consciência, é o caminho mais seguro a seguir em todos os momentos de nossa vida, pois através de sua voz, nosso íntimo é alertado do que deve-se ou não fazer, mesmo que por vezes tenha-se a impressão de que este pensamento não nos pertence.
O aviso que recebemos, tem como objetivo nossa preservação como espécie e indivíduo, mas principalmente a garantia de que sigamos os caminhos pré definidos por nós mesmos.
Sejamos pois cautelosos, afinal “a semeadura é livre, mas a colheita será sempre obrigatória.”

Autoria: Maurício Ramos.



sábado, 14 de abril de 2012

3° Trecho do Livro - A menina e o violino

"A insegurança apresentada na época para os moradores da capital paulista era enorme, o período era marcado por grandes manifestações de estudantes e conflitos com a polícia.
Neste clima hostil e inseguro é que Mário, buscava através de seu trabalho o sustento de sua família.
Ele era de constituição física fragilizada, muito magro e aparentando bem mais que seus trinta e poucos anos de idade, muito em parte pela calvície avançada que lhe cobria boa parte da cabeça, e pela fisionomia quase sempre cansada.

Estava sempre vestido com seus dois únicos ternos de cor azul marinho, por cima de uma camiseta branca e suspensórios, na saída para o trabalho o seu chapéu panamá marrom escuro era de uso obrigatório.
Filho de italianos, mudou-se para o Brasil ainda muito jovem, e admirador da arte em todas as suas expressões, iniciou seu trabalho como serralheiro artístico, onde sua atividade consistia em moldar belas luminárias e artigos em metal para enfeitarem os prédios suntuosos da época..."
 
Autoria: Maurício Ramos

Solidariedade

Solidariedade, talvez esta seja a palavra mais utilizada hoje em dia para se propagar frases feitas em busca de realizações nem sempre tão nobres.
Alguns políticos por exemplo, praticam pseudo-solidariedade na busca pelos votos, entregando cestas básicas ou garantindo o pagamento de alguns impostos pendentes de seus potenciais eleitores, na troca desigual pelo reconhecimento na urna.
Quando digo desigual, é porque este mesmo político caso eleito por meio desta artimanha, causará direta ou indiretamente maiores dores e prejuizos ao cidadão incauto que o elegeu.
A solidariedade inexiste, a partir do momento em que quem a promove espera algo em troca, qualquer que seja o benefício agregado ao ato da solidariedade, ele a anula completamente.
Ser solidário é realmente fazer o bem, só que olhando muito bem a quem, afinal as pessoas que necessitam de solidariedade estão vulneráveis, física ou psicologicamente, e um olhar sincero de atenção e a mão estendida no amparo, são bálsamos revigorantes aos necessitados.
A célebre frase dita a milhares de anos atrás, ainda serve como regra básica ao ato solidário "que a mão esquerda não saiba o que faz a direita", simples,  direto,  mas a síntese da humildade e do amor ao próximo.
Muitas pessoas acreditam serem solidárias por efetuarem doações a instituições e pessoas carentes, mas doar o que não lhe faz falta e ainda divulgar aos quatro cantos sua façanha, só demonstra um coração cheio de orgulho e vaidade.
Muitas vezes, na balança da consciência a que todos seremos submetidos um dia, a pobre viúva que doou um pouco de alimento a um necessitado, repartindo com ele o pouco que possuía, verá pender favoravelmente o prato da balança, enquanto que o abastado que faz alarde de suas ações na intenção de se promover socialmente, por vezes verá seu prato praticamente manter-se imóvel, pois o reconhecimento a que tinha direito, já o teve em meio a suas aspirações egoístas.
Somente seremos solidários, quando nosso ato for realmente uma apologia ao amor ao próximo, sem interesses e sem vaidades.
O princípio básico da solidariedade esta diretamente ligado ao desprendimento em favor ao próximo, onde o reconhecimento com certeza virá, porém na forma de um sorriso sincero, que somente a alma consegue compreender.

Autoria: Maurício Ramos

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Conto - Deus lhe pague


O sol já estava se pondo por trás dos altos edifícios, quando o pequeno Francisco começou a guardar seus pertences.
Menino de sorriso largo e fácil, chamava a atenção pela sua pele escura como ébano que contrastava com seus dentes alvos e fortes.
Ele havia trabalhado o dia inteiro naquela esquina de uma movimentada avenida, estava exausto e faminto.
Durante todo o dia, ele observava o vai e vêm de pessoas de todos os tipos, sempre apressadas que mal notavam sua existência.
Mas o menino de 10 anos de idade já estava acostumado à indiferença e até mesmo a rejeição das pessoas.
Morador de uma favela nas proximidades, ele trabalhava como engraxate para ajudar no sustento de seus três irmãos menores, uma vez que sua mãe trabalhando como diarista, não conseguia ganhar o suficiente para prover a necessidade de todos.
Abandonada pelo pai das crianças, um alcoólatra irresponsável, ela se viu com a responsabilidade de continuar em frente, mesmo com todas as dificuldades financeiras que enfrentava.
Para que ela pudesse ir ao trabalho, contava com a ajuda de sua vizinha Odete, que por compaixão à Dona Joana, ajudava cuidando de seus filhos pequenos.
- Não tem problema não, Dona Joana, afinal onde tem três crianças, mais três quase não fazem diferença – respondia brincando a vizinha quando Dona Joana agradecia ao apoio.
A vida precária que levavam naquele pequeno barraco de apenas um cômodo, só era suportada graças a abnegação de Dona Joana, mãe de Francisco.
Não era incomum o dia, em que não havia muito o que se comer, após chegar do trabalho cansativo de diarista, ela ainda precisava se desdobrar para preparar algo para seus quatro filhos se alimentarem, mesmo que ela própria ficasse sem comer, fato que por diversas vezes aconteceu.
- Mãe a senhora não vai comer nada? – perguntou a filhinha de apenas seis anos.
- Não querida, eu não estou com fome, e além do mais estou mesmo precisando fazer um regime.
Era difícil responder desta forma, enquanto seu estômago dizia o contrário, afinal havia trabalhado pesado durante todo o dia e sentia necessidade de se alimentar.
Para enganar sua fome, ela bebia copos de água e consolava a si própria dizendo – Água faz bem e não engorda.
Uma coisa nunca faltara naquela humilde moradia, o respeito ao próximo e a fé em Deus, Dona Joana mantinha sempre uma imagem de São Judas Tadeu sobre uma velha comoda, onde todas as noites ajoelhava-se orando por proteção e pedindo forças para prosseguir.
O pequeno Francisco acabara de recolher seus pertences da calçada e começou seu caminho de retorno a sua casa.
Em um banco de uma pracinha pela qual passava diariamente, Francisco notou um pequeno envelope marrom caído sob uma velha folha de jornal.
Curioso como qualquer criança de sua idade, ele se aproximou do banco e abaixando-se pegou o envelope.
- Nossa, tem alguma coisa aqui dentro – pensou curioso.
Sentou-se então no banco, e abriu o envelope de forma furtiva como que com medo de que alguém o repreende-se.
Ao olhar o conteúdo, tamanho foi seu susto que sentiu um tremor por todo o corpo.
- Nossa, tá cheio de dinheiro! – exclamou boquiaberto o pobre menino.
- Acho que de tanto minha mãe rezar, Deus resolveu nos ajudar, vou correndo para casa entregar para minha mãe para que ela compre coisas gostosas para nós - pensou o menino enquanto saia apressado daquele banco de praça.
Em frente a pequena praça, encontrava-se sendo amparada por um comerciante local, Dona Mercedes, moradora de um conjunto de casas que ficava a poucos metros da praça.
A velha senhora, morava sozinha desde a morte de seu marido, muito caridosa e amável, estava sempre disposta a ajudar as pessoas, apesar de viver apenas com a pequena  pensão deixada pelo seu falecido marido.
Como boa samaritana, Dona Mercedes recolhia doações em roupas e alimentos e mensalmente distribuía a algumas famílias e pessoas carentes do bairro onde morava.
Pensando em todas as coisas gostosas que sua mãe compraria para que se alimentassem, Francisco alegre como nunca, passou ao lado de Dona Mercedes, ouvindo-a se queixar ao comerciante que a amparava.
- Pois então Sr. Alfredo, é como eu lhe disse, fui ao banco receber minha pensão, que apesar de pequena necessito para pagar minhas contas e principalmente comprar os diversos remédios que tenho necessidade de tomar diariamente, e agora que olhei meus pertences, notei que o envelope do dinheiro desapareceu.
- Minha Nossa Senhora, Dona Mercedes, a senhora não consegue se lembrar por onde foi que andou após sair do banco? - Vai ver esqueceu seu envelope em algum comércio e alguem pode ter guardado para a senhora.
- Que nada Sr. Alfredo, eu não parei em nenhum comércio, apenas aqui na pracinha, eu estava me sentindo muito cansada com as pernas doendo, sentei um pouquinho para me refazer.
- Então é isto – disse entusiasmado o comerciante – a senhora só pode ter deixado cair lá.
Dito isto, Sr. Alfredo correu para ver próximo ao banco da praça, porém nada encontrou, voltando desanimado para comunicar a Dona Mercedes.
- E agora ? Pensou o menino - o dinheiro é desta senhora coitada, ela está desesperada, o que eu faço?
Francisco sabia que o dinheiro pertencia a pobre senhora, uma coisa era achar o dinheiro, outra coisa era saber a quem pertencia, ainda mais após ver o sofrimento de Dona Mercedes, ele queria muito o dinheiro mas lembrou-se dos conselhos de sua mãe sobre honestidade e principalmente respeito ao próximo.
- Ei dona ! - gritou o menino correndo em sua direção – Eu achei isso, acho que é da senhora- Falou mostrando o envelope marrom.
- Obrigada meu anjo – respondeu efusivamente Dona Mercedes, afinal como ela faria sem seus remédios que já lhe custavam tão caro.
A senhora agradecida abraçou fortemente o garotinho, e deu -lhe um beijo de agradecimento em seu rosto – Deus lhe pague meu filho!
Já refeita do susto, ela convidou o menino para ir até sua casa comer alguns biscoitos como forma de agradecimento, infelizmente dinheiro ela não poderia dar, porque o que recebera quase não dava para seus compromissos do mês.
Para o pequeno Francisco, comer aqueles biscoitos já era uma grande recompensa, afinal ele só via biscoitos nas propagandas de supermercados jogadas pelas ruas.
Dona Mercedes quis então saber mais sobre o garoto, que com a boca cheia de biscoitos, contou-lhe sobre sua vida com seus irmãos e sua mãe.
Duas semanas se passaram, e hoje o pequeno garoto não estava mais rico que antes, nem teria que trabalhar menos para ajudar em casa, mas estava mais feliz, pois agora todos os meses Dona Mercedes que incluíra sua família na sua lista para doações de alimentos e roupas iria levar com a ajuda de suas amigas, os mantimentos necessários para sua família, incluindo roupas e alguns brinquedos para ele e seus irmãos.
Agradecida a Deus pelo presente que agora estava recebendo, Dona Joana podia trabalhar mais aliviada, pois sabia que seus pobres filhinhos não mais passariam pela angústia da fome.
Quando Dona Mercedes disse agradecida a Francisco – “Deus lhe pague” - ele nem sequer sonhava que receberia não uma, mas duas vezes este pagamento, pois além da misericordiosa ajuda prestada à sua família, ele ainda havia conquistado seu quinhão, não aqui onde poderia gastá-lo em coisas gostosas, mas em um lugar onde as boas ações e atos de amor que praticamos em nossa vida, são contabilizadas a nosso favor e no momento oportuno, receberemos por cada semente plantada, saber escolher o que plantar durante a curta trajetória, faz toda a diferença entre bem viver e desesperança.




Fim.

Autoria: Maurício Ramos



Mais um pequeno Trecho do livro - A menina e o violino

"Ao perceber que sua pequena filha havia acordado, Mário parou de tocar por um instante, levantou-se e caminhou até próximo de sua cama.
- Bom dia, minha querida -disse ele carinhosamente à pequena Dirce, que acabrunhada em meio às cobertas, lhe abriu um sorriso terno e meigo.
- Bom dia, papai...respondeu-lhe .
- Não pare de tocar, estava gostando muito desta música - pediu-lhe então a menina.
- Desculpe querida, não queria acordá-la, esta música que estava tocando, chamasse “Primavera de Vivaldi”.
- Ela é linda! Toque mais um pouco papai...adoro ouví-lo.
Com um sorriso no rosto, seu pai aconchegou-se ao seu lado na cama, afastou um travesseiro e ajeitou-se para melhor empunhar seu precioso violino para continuar sua exibição a um público muito especial...sua querida filhinha.
A pequena Dirce tinha apenas seis anos de idade, e morava com seus pais Mário e Ana Maria em uma pequena vila de casas, na verdade mais parecia com um cortiço, pois era um quintal com um único portãozinho de acesso para um terreno, onde haviam construidos ao lado esquerdo três tanques coletivos para lavar roupas, seguidos de duas cozinhas externas e dois banheiros.
No fundo do quintal, dois quartos não muito grandes concluíam a obra, e em um destes quartos é que morava sua família, dividindo o terreno com uma família de  descendentes de portugueses.
A cidade de São Paulo nos meados dos anos trinta, era uma cidade aconchegante, porém repleta de dificuldades para conseguir-se um emprego, ou até mesmo uma moradia mais digna para as famílias menos afortunadas.
A opção encontrada então por Mário, um humilde descendente de italianos, foi o aluguel deste pequeno quarto, para aconchegar sua esposa e sua pequena filhinha..."

Maurício Ramos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Conto - Borboletas na Janela.

O dia acabara de amanhecer, ela levantou-se e caminhou para perto do beiral da janela, sentiu-se fraca, porém feliz por poder caminhar um pouco.
Afinal, já faziam dias que ela mal conseguia erguer a cabeça, as fortes dores estomacais que lhe acometiam diariamente tiraram-lhe completamente o apetite e alimentar-se era mais um suplício que um ato prazeroso.
- Já nem me lembro mais quanto tempo estou nesta cama – pensou Iolanda.
Ainda sentindo-se muito enfraquecida, interrompeu sua caminhada até a janela e parou ali mesmo, sentando-se em uma confortável poltrona branca que havia próximo a seu leito.
Apesar de sua aparência abatida e enfraquecida, seu rosto marcado por grandes olheiras, possuía contornos delicados, de uma jovem que ainda não completara 25 anos.
Ficou olhando em direção à janela que não conseguira ainda alcançar, e notou a presença de uma linda borboleta, suas asas eram de um lindo azul brilhante, com contornos em tom mais escuro e leves manchas brancas.
Pousando sobre o vidro da janela, ela mexia de forma cadenciada suas belas asas, como que exibindo-se à Iolanda, que a admirava boquiaberta por sua beleza.
Iolanda sorriu para si mesma, lembrando do tempo em que era uma garotinha, cheia de vitalidade e alegria.
Recordou-se das claras manhãs de primavera em que caminhava de mãos dadas com sua mãe, atravessando o pomar de sua casa, sentindo o doce aroma das frutas maduras.
- Como era doce minha vida – pensou ela – sempre ao lado de minha querida mãezinha.
Deixando um pouco de lado seus pensamentos, ela observou outra borboleta pousar ao lado da borboleta azul.
Esta era toda laranja, rajada de preto e branco, e ficou bem próxima da outra, também mexendo suas asas em um balé único e harmonioso.
Elas estavam próximas uma da outra, como se estivessem se beijando, Iolanda perdeu-se novamente em lembranças.
- Lembro como se fosse hoje, o dia em que fui ao parque com Luís, ele sempre foi tão atencioso comigo, aquele dia as flores estavam cheias de borboletas de todas as cores e matizes.
Este dia em especial, foi marcado pelo pedido de noivado que seu namorado Luís lhe fizera, para ela foi inesquecível, o sol iluminava as árvores, e uma leve brisa soprava em seus rostos.
Já namoravam a dois anos, e Luís planejava casar-se com ela antes de completar três anos de namoro.
- Aceita se casar comigo – disse-lhe o rapaz
- Claro que sim, é tudo que mais quero desta vida – respondeu-lhe sem exitar.
Os dias e semanas seguintes foram de alegria e descontração, planos feitos com amor e carinho, todos os cuidados com detalhes como vestido de noiva, igreja e floristas, já estavam sendo tomados por Iolanda, que vivia seu momento de sublime alegria.
Após dois meses, em uma manhã porém, Iolanda acordou com uma sensação ruim no estômago, levantou-se depressa e correu para o banheiro de seu quarto onde inevitavelmente colocou para fora todo o alimento que houvera consumido na noite anterior.
- Iolanda, você está bem minha filha?
- Sim mamãe, estou apenas com forte dor no estômago.
- Abra a porta do banheiro, quero vê-la – disse aflita sua mãe.
Dona Marisa, mãe de Iolanda ajudou sua filha a caminhar até sua cama e ligou urgente para o escritório de seu marido para que o mesmo viesse ao seu socorro para levarem a filha ao hospital mais próximo.
Abandonando novamente seus pensamentos Iolanda voltou a observar as borboletas que agora formavam um trio.
Juntou-se às duas existentes, uma terceira borboleta de um tom suave de amarelo, esta menorzinha, aproximou-se também das outras duas borboletas, e ficaram muito próximas, como se estivem unidas, ligadas, formando uma aquarela viva de lindo colorido.
- Por que ? Indagava ainda a moça em pensamento,- por que naquele dia em que minha vida estava tão linda, meu sonho de casar com Luís estava se concretizando, por que tinha que acontecer isto comigo?
Quando seus pais a levaram ao hospital, ela ficou internada para exames, pois seu estado havia se agravado acentuadamente.
Seu noivo foi chamado, e imediatamente dirigiu-se ao hospital para visitar sua amada.
Dias se passaram, e a conclusão dos exames foi como uma bomba a explodir nos corações de todos daquela família, a jovem Iolanda estava então, diagnosticada com uma forma altamente nociva de câncer no estômago.
A dor apossou-se de todos, e sentimentos de revolta misturaram-se com dor e esperança de que tudo passasse como um sonho ruim.
Mas o que passou foram os dias, e Iolanda internada naquele quarto de hospital viu-se prisioneira de tratamentos dolorosos e pouco eficazes para combater o mal que havia tomado conta de seus jovens órgãos.
Ela já nem contava mais os dias e apesar das visitas diárias de seus pais e de seu noivo, a triste rotina estava tirando-lhe o resto de forças que ainda tinha.
- Essas borboletas- pensou Iolanda- são como meus pais e Luís, as três estão próximas a mim, me olhando e velando por mim, mas da mesma forma como não consigo caminhar até a janela para tocá-las, sinto que nunca mais poderei me juntar a eles três como gostaria novamente de fazer.
Sentada naquela poltrona branca, olhando enternecida para as três borboletas na janela, a luz que iluminava os olhos de Iolanda foi mansamente se apagando, livrando-a de tanta dor e sofrimento, a exemplo da lagarta que transforma-se em crisálida para surgir em liberdade como borboleta, livre das amarras que lhe prendiam, Iolanda deixou este pobre casulo para alçar vôos mais altos.

Fim.

Autoria: Maurício Ramos

Trecho do Livro - A menina e o violino

"Fazia frio naquela manhã de outono, quando pouco a pouco o despertar acontecia embalado por suave melodia.
Ainda com seus olhinhos preguiçosos a pequena menina frágil e delicada ia se desvencilhando das cobertas que a protegiam do frio da manhã.

Era sábado, e seus aguçados ouvidos captavam, a doce melodia que vinha da extremidade do quarto em que dormira. Sentado em uma cadeira, empunhando de forma majestosa seu velho violino “Stradivarius”, ela podia observar a sombra esguia de seu pai, tocando aquele instrumento como se sua própria alma se esvaísse pelas finas cordas, emanando uma mistura de alegria e angústia, através de sua música, algumas vezes entrecortada pelo som incômodo de uma tosse insistente e perturbadora que lhe acometia já a algum tempo.

Como era bom escutar seu pai tocar, pensava ela, ainda relutante em levantar-se para evitar que ele parasse seu pequeno concerto, afinal, ele acontecia apenas aos fins de semana, quando seu pai não estava no trabalho e dispunha de maior tempo para realizar uma das poucas coisas que realmente tinha prazer em fazer, além de ficar com sua família, tocar seu violino.

Com o instrumento apoiado em seu ombro, bem próximo ao seu queixo, ele deixava o arco deslizar de forma suave, produzindo belas melodias, não que ele houvesse se preparado com aulas de música ou coisa parecida, mas a habilidade de aprender apenas ouvindo era um dom que ele sabia muito bem usufruir, “tocar de ouvido”, era assim que ele em sua simplicidade, justificava a qualidade musical que possuía..."

Maurício Ramos

O verdadeiro significado da caridade

A caridade, ao contrário do que a palavra induz a compreender, não trata-se apenas do ato de dar uma esmola  a um  pobre desafortunado.
Aliás, este ato quando feito por obrigação social ou para ostentação de quem o pratica, é desprovido de humildade, e queima  a mão de quem o recebe pela forma fria como é realizado, causando mais mal do que o auxiliando.
A caridade não está somente ligada aos bens materiais, e qualquer um pode praticá-la.
Para tanto, basta um minuto de atenção dispensada aos menos favorecidos, um sorriso amigo e por que não um aperto de mão caloroso, fazendo aquela pessoa sentir-se novamente digna de pertencer a sociedade.
A riqueza sem dúvida poderia auxiliar muito a combater as diferenças sociais existentes, mas o orgulho e o egoísmo presentes ainda na maioria dos corações das pessoas, distancia sobremaneira uma classe social da outra.
Ser caridoso é ser compreensivo, atencioso, respeitando todos os necessitados como seres humanos iguais a nós, e não olhando-os como as antigas civilizações olhavam os leprosos.
Sejamos caridosos, começando amanhã mesmo, ao olharmos nos olhos de nossos semelhantes e deixando claro que somos todos iguais e se a vida fez com que esta pessoa passasse por esta situação dificil neste momento da jornada, nada impede que em outra trajetória não sejamos nós os necessitados do amor fraternal e que talvez esta mesma pessoa seja a mão amiga a nos reerguer.

Autoria: Maurício Ramos

Viver a vida...

O que é de fato viver?
Biologicamente falando, viver é estar com suas funções vitais em seu perfeito gozo.
Seus orgãos ativos, pulsando sangue pelas veias e garantindo o perfeito funcionamento desta máquina maravilhosa que é o corpo humano.
Mas viver deve ser, e é muito mais do que isso...
Na correria do dia a dia, mal nos damos conta da presença das pessoas ao nosso lado, a menos que seja para reclamar que de alguma forma elas nos tenham causado algum transtorno.
Viver seria tão mais simples e prazeroso, se observássemos mais atentamente o mundo a nossa volta.
Às vezes, um simples sorriso para um desconhecido que cruzamos pela calçada, nos garante a sinceridade da reciprocidade, que nos deixa mais leves  e ilumina nosso rosto com um sorriso.
O mundo em sua necessidade de progresso e avanços em todos seus segmentos, acaba por criar um véu sobre as pessoas, que vivem apenas voltadas a uma pequena esfera, o seu mundo particular.
Mas viemos a este mundo para algo muito maior do que isso, viemos para compartilhar, aprender e acima de tudo evoluir.
Basta observar a generosidade da natureza, onde uma pequena semente, recebe dos braços do solo todos os nutrientes necessários para seu desenvolvimento, agraciada pelas águas das chuvas  e aquecida pelo calor do sol, germinando e desenvolvendo-se, até alcançar sua total evolução como uma frondosa árvore.
Somos ainda sementes, precisamos germinar, crescer, evoluir, mas principalmente precisamos doar aos outros um pouco de nossa essência, distribuindo sorrisos, gentilezas e acima de tudo um pouco de humanidade.

Autoria: Maurício Ramos